quarta-feira, 23 de abril de 2008
terça-feira, 22 de abril de 2008
Eu
Eu sou a que no mundo anda perdida,
Eu sou a que na vida não tem norte,
Sou a irmã do Sonho, e desta sorte
Sou a crucificada... a dolorida...
Sombra de névoa tênue e esvaecida,
E que o destino amargo, triste e forte,
Impele brutalmente para a morte!
Alma de luto sempre incompreendida!...
Sou aquela que passa e ninguém vê...
Sou a que chamam triste sem o ser...
Sou a que chora sem saber por quê...
Sou talvez a visão que Alguém sonhou,
Alguém que veio ao mundo pra me ver,
E que nunca na vida me encontrou!
Florbela Espanca
Eu sou a que na vida não tem norte,
Sou a irmã do Sonho, e desta sorte
Sou a crucificada... a dolorida...
Sombra de névoa tênue e esvaecida,
E que o destino amargo, triste e forte,
Impele brutalmente para a morte!
Alma de luto sempre incompreendida!...
Sou aquela que passa e ninguém vê...
Sou a que chamam triste sem o ser...
Sou a que chora sem saber por quê...
Sou talvez a visão que Alguém sonhou,
Alguém que veio ao mundo pra me ver,
E que nunca na vida me encontrou!
Florbela Espanca
quarta-feira, 9 de abril de 2008
Dama da Noite
A meia-noite entrou em cena uma dama.Surgiu em meio a multidão frenética,naquele lugar miserável,trajando um vestido surrado,gasto pelo tempo e com manchas da noite passada.
Nem bonita nem feia,nem alta nem baixa,mediana.De cabelos negros,muito crespos,presos por uma liga verde-limão que contrastava com seu vestido vermelho.Ela era só mais uma dama da noite.
Recostou-se a um balcão, ela tinha a missão de conseguir dinheiro.Dinheiro sagrado para sua família,que o aguardara durante todo o mês,dinheiro destinado a pagar o aluguel do quitinete decadente em que morava.O básico para a sobrevivência.Apesar de saber o que lhe aguardava,mantinha uma postura digna,de pessoa conformada com seu destino.
Podia enganar a todos naquele ambiente degradante,mas seu olhos...Seus olhos revelavam uma angústia profunda,uma guerra intensa n’alma,só quem perceberia era quem também tivesse uma guerra avassaladora dentro de si.Enfim avistou um homem.Um senhor grisalho,gordo,sujo, que jogava baralho naquele lugar de tipos tão diversos.Ela se dispôs a fazer uma espécie de “dança da sedução”,atraindo-o para seu leito,qual já compartilhara com muitos outros tipos.Despiu-se,fez aquele velho,que havia dado sorte no jogo,lacrimejar de desejo.Homens velhos têm disso,além de todo o asco que provocam nessas horas,não é preciso muito esforço para agradá-los.
Depois de meia hora de volúpias forçadas,o suplício chegou ao fim.Eis a hora de acertar as contas,e partir para o próximo cliente.
Quando foi cobrar seu pagamento pelos serviços da noite,o velho a empurrou fazendo com que ela batesse a cabeça num degrau de cimento que se encontrava perto da cama.Ela desmaiou.Ele fugiu.
A mulher a quem todos procuravam para amenizar a solidão,estava inconsciente,estava temporariamente morta.Ficou ali deitada no chão por um bom tempo,até que alguém entrou em seu quarto.Um homem.Desta vez um jovem,que não segurou seus impulsos ,não resistiu àquele corpo nu, pálido e mórbido deitado no cimento cascarento.Avançou-se sobre ela e a possuiu do jeito que estava,sem se preocupar se a porta estava aberta ou fechada.Outros homens apareceram e ,sem nenhum pudor,se prostaram diante do quarto da dama inconsciente e ficaram assistindo ao seu desfloramento.
Horas se passaram,e aquele turbilhão de acontecimentos cessaram.A flor despedaçada aos poucos foi se acordando,desprezou a dor que sentia e o cansaço, tinha o pensamento fixo de ir atrás do seu merecido dinheiro.Ainda atordoada por conta da batida na cabeça, saiu do quitinete ainda despida ,não enxergava bem,não raciocinava bem,se locomovia pior ainda ,só pensava em ir atrás do homem que a roubara.
Correu atordoada em direção ao outro lado da rua e tão rápido quanto a sua visão pudesse acompanhar,ela foi atropelada por um carro.Caiu no chão,completamente vulnerável,sozinha,e ainda conseguiu ver vultos a observá-la,a cochichar.Ninguém a levantou.O sangue escorreu por um bom tempo ,as pessoas foram embora e o sangue secou.Lá,ela ficou até a ambulância chegar e a levar para um lugar onde, talvez,ela tivesse descanso eterno.
Nem bonita nem feia,nem alta nem baixa,mediana.De cabelos negros,muito crespos,presos por uma liga verde-limão que contrastava com seu vestido vermelho.Ela era só mais uma dama da noite.
Recostou-se a um balcão, ela tinha a missão de conseguir dinheiro.Dinheiro sagrado para sua família,que o aguardara durante todo o mês,dinheiro destinado a pagar o aluguel do quitinete decadente em que morava.O básico para a sobrevivência.Apesar de saber o que lhe aguardava,mantinha uma postura digna,de pessoa conformada com seu destino.
Podia enganar a todos naquele ambiente degradante,mas seu olhos...Seus olhos revelavam uma angústia profunda,uma guerra intensa n’alma,só quem perceberia era quem também tivesse uma guerra avassaladora dentro de si.Enfim avistou um homem.Um senhor grisalho,gordo,sujo, que jogava baralho naquele lugar de tipos tão diversos.Ela se dispôs a fazer uma espécie de “dança da sedução”,atraindo-o para seu leito,qual já compartilhara com muitos outros tipos.Despiu-se,fez aquele velho,que havia dado sorte no jogo,lacrimejar de desejo.Homens velhos têm disso,além de todo o asco que provocam nessas horas,não é preciso muito esforço para agradá-los.
Depois de meia hora de volúpias forçadas,o suplício chegou ao fim.Eis a hora de acertar as contas,e partir para o próximo cliente.
Quando foi cobrar seu pagamento pelos serviços da noite,o velho a empurrou fazendo com que ela batesse a cabeça num degrau de cimento que se encontrava perto da cama.Ela desmaiou.Ele fugiu.
A mulher a quem todos procuravam para amenizar a solidão,estava inconsciente,estava temporariamente morta.Ficou ali deitada no chão por um bom tempo,até que alguém entrou em seu quarto.Um homem.Desta vez um jovem,que não segurou seus impulsos ,não resistiu àquele corpo nu, pálido e mórbido deitado no cimento cascarento.Avançou-se sobre ela e a possuiu do jeito que estava,sem se preocupar se a porta estava aberta ou fechada.Outros homens apareceram e ,sem nenhum pudor,se prostaram diante do quarto da dama inconsciente e ficaram assistindo ao seu desfloramento.
Horas se passaram,e aquele turbilhão de acontecimentos cessaram.A flor despedaçada aos poucos foi se acordando,desprezou a dor que sentia e o cansaço, tinha o pensamento fixo de ir atrás do seu merecido dinheiro.Ainda atordoada por conta da batida na cabeça, saiu do quitinete ainda despida ,não enxergava bem,não raciocinava bem,se locomovia pior ainda ,só pensava em ir atrás do homem que a roubara.
Correu atordoada em direção ao outro lado da rua e tão rápido quanto a sua visão pudesse acompanhar,ela foi atropelada por um carro.Caiu no chão,completamente vulnerável,sozinha,e ainda conseguiu ver vultos a observá-la,a cochichar.Ninguém a levantou.O sangue escorreu por um bom tempo ,as pessoas foram embora e o sangue secou.Lá,ela ficou até a ambulância chegar e a levar para um lugar onde, talvez,ela tivesse descanso eterno.
quinta-feira, 3 de abril de 2008
FREAK SHOW
Eis que tudo ficou claro e evidente. Bem na frente dos meus olhos, todas as mazelas desse mundo se fizeram visíveis e eu fui tocada pelo mal da sociedade.
Estive lá, cheirando o suor deles,vendo seus rostos todos iguais,seus instintos tão aflorados,sua realidade despida e completamente vulnerável.
Num breve momento fui invadida pela aura do ambiente e contraditoriamente, me senti em casa. Era como se seus gritos ensandecidos diante de um espetáculo de aberrações me acalentassem. Aquilo era, sem dúvida, uma doença. A praga que os poderosos omitem, mas que resiste.
Foi preciso tocar na ferida para mudar a minha concepção de “divertido”. Aquilo que parecia cômico vinha acompanhado de dor, de um gemido estremecedor.
O dono do circo, o malabarista, os anões e toda a massa, peças de um quebra-cabeça ardiloso.
Por trás daqueles sorrisos, havia algo muito estranho, algo que me amedrontava profundamente, mas que eu deveria confrontar.
Isso nunca vai acabar. Sempre existirão anões, donos de circo e pessoas que assistirão a esses espetáculos medonhos. A ferida aberta e flamejante está aí, para quem quiser ver ,para quem desejar se deleitar com um “circo dos horrores”.
***
dois dias depois da minha ída ao LONDON CIRCO
***
foto do filme FREAKS de Tod Browning
Estive lá, cheirando o suor deles,vendo seus rostos todos iguais,seus instintos tão aflorados,sua realidade despida e completamente vulnerável.
Num breve momento fui invadida pela aura do ambiente e contraditoriamente, me senti em casa. Era como se seus gritos ensandecidos diante de um espetáculo de aberrações me acalentassem. Aquilo era, sem dúvida, uma doença. A praga que os poderosos omitem, mas que resiste.
Foi preciso tocar na ferida para mudar a minha concepção de “divertido”. Aquilo que parecia cômico vinha acompanhado de dor, de um gemido estremecedor.
O dono do circo, o malabarista, os anões e toda a massa, peças de um quebra-cabeça ardiloso.
Por trás daqueles sorrisos, havia algo muito estranho, algo que me amedrontava profundamente, mas que eu deveria confrontar.
Isso nunca vai acabar. Sempre existirão anões, donos de circo e pessoas que assistirão a esses espetáculos medonhos. A ferida aberta e flamejante está aí, para quem quiser ver ,para quem desejar se deleitar com um “circo dos horrores”.
***
dois dias depois da minha ída ao LONDON CIRCO
***
foto do filme FREAKS de Tod Browning
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